A SUBVERSÃO DA RESSURREIÇÃO, PARTE 3


MANHÃ

Jo 21.1-13

Um dos episódios pós-ressurreição envolve uma manhã, a pescaria de Pedro, e um café-da-manhã. Após aquele final de semana, as cenas da crucificação, o burburinho da multidão sobre o monte Caveira, e os estalos da guarda romana ainda estavam vivos na memória de Pedro. Contudo, é plausível supor que a brutal lembrança da morte de seu digno mestre concorria com algo que não podia esquecer: quando as autoridades levaram Jesus a interrogatório, ele o negou. Por amor de sua própria segurança, negou instantaneamente seu envolvimento com seu gracioso Mestre. Muito provavelmente, todas estas imagens, inundaram seu coração com um intenso sentimento de remorso, vazio e desconsolo. 

Jamais haverá alguém tão intrinsecamente digno e repleto de autoridade quanto a Jesus, Senhor e Deus de todo o cosmos, e, mesmo assim, havia se dirigido a ele, um ordinário pescador, o convidado  a ser seu discípulo, companheiro de confiança e amigo (...e amigo); transformado sua vida de maneiras que ele sequer imaginou ser possível; deu-lhe identidade, propósito e uma causa pela qual valeria viver e até morrer. Mas por aquela noite de traição, Pedro certamente já não se considerava digno de continuar a fazer o que Jesus lhe confiou, nem de ser quem Jesus lhe havia chamado e transformado para ser. 

Talvez por isso, pela sufocante desonra com sigo mesmo, Pedro chegou à seguinte conclusão: "Vou pescar!". Por que Pedro se importaria em pescar numa hora dessas? Não há registro de Pedro pescando desde de que conheceu a Jesus. Pode bem ser que o fizesse, só não era algo relevante o suficiente para ocupar as anotações bíblicas. Mas nesta noite é diferente. O evangelho registra que Pedro decidiu ir pescar. Estaria Pedro se recorrendo a aquilo que lhe era próprio, o hodierno pescador, sem Cristo e sem muita perspectiva? Seria uma fuga da realidade marcada pela indignidade de ser ele discípulo amado, mas que havia, mesmo que por um instante, abandonado tudo e negado seu mestre? É possível que algo assim passasse pela mente de Pedro, uma pedra polida e feita preciosa por Jesus, que se joga no meio do cascalho bruto.

Para uma madrugada tão escura e densa no apagado coração desse pescador, somente a Estrela da manhã poderia dissipar e renovar seu calor. É este o lugar apropriado para a subversão do Cristo ressurrecto raiar seu brilho intenso. Jesus aparece subitamente na praia e se dirige a Pedro. Mais uma vez, Jesus vai até aquele homem do mar para dizer que ele é seu, que lhe fez e fará mais do que nunca, pescador de vidas; que está ali por ele, novamente, para o encontrar e ser achado. Tudo isso Pedro percebeu ao ver e ouvir Jesus ali. Aquela visão era significativa demais entre os dois, e o inquiria a valorizá-la mais do que as imagens da traição, e as cenas da cruz. Pedro percebe mais uma vez o maravilhoso convite da graça, e desta vez, também a um inesquecível café-da-manhã com o todo poderoso ao nascer do sol. Então Pedro se joga, pra nunca mais retroceder, em direção a Jesus, pois sabia agora, mais do que nunca, que só ele tem palavras de vida eterna.

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