Espiritualidade Diet, Light e Zero

O jejum já não é popular para o cristianismo contemporâneo. Não seria uma grande surpresa se descobríssemos que nossos filhos pré-adolescentes nem sabem do que se trata. Pois ai está um assunto mal compreendido, mal divulgado, e, por isso – ouso dizer – certamente mal praticado. A curiosidade é notar que, paradoxalmente, nunca se falou e se empreendeu tanto esforço em dietas, regimes e educação alimentar como nas últimas décadas. Alimentos light, diet e zero (sem deixar de mencionar os mais recentes free e low) preenchem as prateleiras e geladeiras dos lares preocupados e empenhados com a saúde/estética de seus habitantes. Novos hábitos, medidas e até determinadas abstinências são formadas diariamente ao redor da mesa para a glória de um corpo melhor, mais belo. Afinal, jamais foi difícil para o homem se amar... Se amar demais.
Talvez isso explique a impopularidade do jejum comparado à democracia das dietas: a motivação e o alvo. Com as dietas, os alimentos diets e Cia, perdemos os doces e sabores dos alimentos por apego de nosso corpo. Com o jejum nós perdemos o alimento todo por amor da glória de Deus. Esta opção pode parecer demais para nossos dias se tivermos de compará-la com aquela. Pois estamos sempre ocupados demais, com as mãos repletas de coisas e ambições que nos dizem respeito (Mc 4.19). Se for para renunciar alguma coisa, que seja para o nosso bem. Somos nosso maior objeto de valor e assunto predileto de nossa ocupação.
É assim, tanto amando a nós mesmos que desprezamos a glória de Deus em nossa semana, em casa, e ao redor da mesa. Não conseguimos desfrutar prazer em Deus além de nosso ego e cuidado próprio. Capazes de nos comprometer com regimes alimentares, mais reticentes em ter tempo com Deus, acabamos por adorar nossa "corporalidade" e conquistamos uma espiritualidade diet, light, zero.
Precisamos valorizar a presença de Deus e sua glória ao ponto de estarmos ocupados e disponíveis a elas. Ao ponto de sentirmos saudade dEle durante numa terça-feira qualquer, enquanto cuidamos de nossas vidas... enquanto trabalhamos, pensamos, comemos ou deixamos de comer. Piper diz que "o maior inimigo da fome por Deus não é o veneno, mas a torta de maça. Não é o banquete dos perversos que enfastia nosso apetite pelo céu, mas o infindável beliscar à mesa do mundo e do ego. Não é a obscenidade do vídeo, mas o chuvisco da trivialidade do horário  nobre que nós sorvemos todas as noites". Assim, é mais fácil sermos impedidos de banquetear à mesa do amor do Senhor por envolvimento com suas dádivas do que por conflitos com seus inimigos.  É um pedaço de terra, uma junta de bois, é uma esposa (Lc 14.18-20). São os "deleites dessa vida" que sufocam nosso desejo por Deus (Lc 8.14).
A saúde, a beleza, o corpo, os prazeres, as coisas e bens, nosso tempo e estômagos, tudo nos é concedido por Deus para a sua glória antes de qualquer outro fim (1Co 10.31). A compreensão que nos falta é que glória de Deus diz muito respeito à nossa alegria, real alegria. Se crermos nisto, poderemos reconquistar uma espiritualidade saudável, doce, capaz de abdicar mais do que a açucares e calorias para o bem de nosso corpo, mas a nosso ego por amor e saudade do Pai, de sua presença e de sua Palavra, o pão da vida. Que a glória de Deus seja mais desejável que os deleites da vaidade. Que tenhamos fome por Deus mais uma vez, como já foi um dia.

Comentários

  1. Muito boa essa postagem. realmente há muita coisa a ser restaurada. Que Deus nos ajude com pastores e líderes a trazer de volta as ovelhas do Senhor à verdadeira espiritualidade. Vou colocar no boletim da IP de Tangará da Serra, com os devidos créditos. Dios te bendiga!

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